quarta-feira, maio 09, 2007

Crise dos vinte

Deitada na sua cama, lembrava de sua adolescência, de quando estava anoitecendo e ela ficava olhando para o céu azul-forte e admirando as estrelas. sentia um encantamento, uma vaga idéia de que o mundo era vasto e emocionante, e ansiava encontrar esse mundo na vida adulta, sentir essa energia. Agora tudo que encontrava eram as paredes cizas do seu quarto, e tudo que sentia era uma cólia nauseante. Não olhava mais o céu nem as estrelas, no apartamento que morava não tinha varanda, e da janela só se viam prédios. Também, quando chegava a noite cansada do trabalho só queria era deitar.

A vida adulta chegara, e o mundo emocionante que esperava não veio. Tudo que encontrou foram paredes inóspitas do escritório, e milhares de papéis para ler, assinar, carimbar. Na rua a fumaça dos carros. Não era mais capaz de sentir aquela alegria, e tinha só vinte e poucos anos. Quando, porque e como se perdera, não sabia. Se perguntava como foi que se deixou levar por essa vida fácil e chata, e a cólica apertava ainda mais. Não sabia a resposta, e se sentia culpada por sua infelicidade.

Porque não tinha vontade de lutar e buscar seu sonho? Ah, que ridículo, com olutar por um sonho que não se tem? Deveria ter tido, algum dia, mas esqueceu-o em alguma festa. Eram sonhos altos...achava que tinha desistido deles exatamente por causa disso. Como que ela, saída de uma cidade pequena ia chegar algum dia a ser alguém importante, alguém com influência na sociedade? Fez o que era mais viável: Administração. Foi pra cidade grande estudar, sim, mas continuava a ser pequena.

E aquela cólica não parava. Desde manhã. Teve que sair mais cedo do trabalho, não aguentou de dor, mesmo tomando remédio. Não aguentava mais aquela vida vazia. Não aguentava mais essa auto-punição. Tinha que culpar alguém...Seus pais! Os pais que não a incentivaram... O sistema é injusto, não dá a mesma chace pra todos.... E na verdade, nunca acreditou mesmo que poderia se grande. só em certos lampejos de vaidade e euforia. A dor foi tanta, que não aguentou e vomitou no chão. Seus olhos ardiam com as lágrimas de dor e de tristeza.

A garota que morava com ela chegou e a viu nesse estado. Preocupada, limpou o chão e a ajudou ela a se limpar. "Você tem que ir num médico ver isso". Tinha. Tinha que ir num psicólogo, pra ver se parava com aquela angústia. Não que acreditasse em psicólogos ou psicanalistas, mas a essa altura estava apelando pra tudo.

(dando uma de pseudo-escritora... se gostar, tem mais nesse blog aqui.)

3 comentários:

Anônimo disse...

"Always be a poet, even in prose."
- Charles Baudelaire

Anônimo disse...

adorei teu texto!
vou agora mesmo ler mais no outro blog ;)
;*

Anônimo disse...

Não pude deixar de comentar. Adorei o seu texto, me sinto muitas e muitas vezes com toda essa sua angústia, principalmente esse mal estar, vômito e a procura de um psicologo. Não é coisa de louco, não. Hoje não me vejo sem terapia, me ajudou muito, mas posso te dizer que os altos e baixos sempre estão presentes. Parabéns pelo blog. Também vou agora mesmo visitar o outro para ver seus textos de "pseudo-escritora". Beijos.